Quase aconteceu o pior. Em cenas previstas para irem ao ar em Vale Tudo, Maria de Fátima (Bella Campos) arma um plano pesado para tirar do caminho os bebês que Solange (Alice Wegmann) espera. A vilã desconfia que Afonso (Humberto Carrão) seja o pai dos gêmeos e decide mexer no remédio da diretora para provocar um desfecho fatal. Só que, no instante decisivo, ela trava. A hesitação impede a tragédia e, por tabela, muda o jogo de forças na história.
O plano que quase virou tragédia
A sequência começa quando Maria de Fátima descobre a gravidez de Solange — e não é qualquer gravidez: são gêmeos. A informação cai como uma bomba porque a própria Fátima também está esperando um filho e, na cabeça dela, os dois bebês podem ser do mesmo homem: Afonso, herdeiro da TCA. A partir daí, ela conecta pontos, alimenta suspeitas e parte para a ação.
Antes de mirar Solange, Fátima tenta resolver o próprio problema a qualquer custo. Em um gesto extremo, ela se joga da escadaria do Theatro Municipal para provocar um aborto. Não dá certo. O desespero vira método: ela suborna um funcionário de laboratório para confirmar, sem margem de erro, se Afonso é ou não estéril — informação que tinha sido espalhada por Celina (Malu Galli). O laudo derruba a mentira. A tia de Afonso e irmã de Odete Roitman (Debora Bloch) falsificou a história da esterilidade. Com a farsa exposta, Fátima se sente aliviada em relação à própria gestação, mas abre uma nova frente: e se Solange também estiver esperando um filho de Afonso?
É nesse clima que nasce o plano mais sombrio da personagem. Fátima identifica uma brecha: a rotina de medicação de Solange. A ideia é simples e covarde — adulterar o remédio, provocar uma complicação e encerrar a gravidez dos gêmeos sem deixar rastros. A lógica dela é fria: sem os bebês, desaparece um possível elo entre Solange e Afonso, e as peças voltam a ficar a favor da vilã.
Só que a cena-chave não sai como ela imaginou. Com o frasco na mão e o tempo correndo, Fátima vacila. O peso do que está prestes a fazer entra na conta. Ela não consegue seguir adiante. Esse minuto de fraqueza salva a vida dos gêmeos de Solange e escancara um lado que a personagem quase nunca mostra: limites. Mesmo disposta a tudo, Fátima não cruza essa linha.
O que essa hesitação muda no jogo
O recuo de Fátima não é só um detalhe moral. Ele reconfigura a história em vários níveis. Primeiro, Solange mantém a gestação de risco sob controle, e a expectativa em torno dos gêmeos aumenta. Segundo, o eixo da intriga sai do terreno do crime e volta para o da disputa de versões: quem é o pai? Com o falso laudo derrubado, a conversa muda de tom dentro da família Roitman e da TCA.
Para Afonso, a conta vem pesada. Se confirmar que é pai do bebê de Fátima e dos gêmeos de Solange, o herdeiro entra no olho do furacão pessoal e empresarial. A imagem dele, que já é alvo de vigilância por causa do sobrenome e do cargo, vira munição numa guerra doméstica que mexe com herança, sucessão e poder.
Celina, que espalhou a mentira da esterilidade, fica num beco sem saída. A revelação de que o exame foi uma fraude tem efeito dominó: mina a confiança dentro de casa, complica alianças e pode despertar a fúria de Odete Roitman. Odete, por sua vez, costuma agir sem sentimentalismo quando enxerga risco para sua reputação e para os negócios. Se entender que os bebês ameaçam o controle da família sobre a TCA, a empresária vai se mover — e não costuma errar o alvo.
Solange sai desse episódio por cima, mas não ilesa. Ela ainda lida com uma gravidez sensível e com a sombra de ter sido alvo de um atentado silencioso. A diretora, que já convive com ambientes competitivos, passa a medir cada passo e, muito provavelmente, a reforçar o próprio círculo de confiança. O trauma muda postura e prioridades, especialmente se a paternidade dos gêmeos confirmar o vínculo com Afonso.
Maria de Fátima, por fim, mostra rachaduras. O recuo não a transforma em heroína, mas revela conflito interno. Ela quer status, dinheiro e o lugar mais alto da pirâmide social. Ainda assim, ao se ver diante da possibilidade de causar a morte de dois bebês, ela para. Esse freio acrescenta camadas à personagem e torna seus próximos movimentos menos previsíveis. Vai dobrar a aposta em intrigas “limpas”? Vai buscar uma confissão de Afonso? Ou vai tentar isolar Solange com algum escândalo público?
O episódio também puxa temas que sempre renderam na trama: a ambição sem freio, as mentiras de família que parecem proteger e, na prática, implodem relações, e a maternidade usada como moeda de poder. Ao expor a mentira do exame e frustrar o plano do remédio, a novela recoloca a discussão no lugar certo: quem manipula quem — e por quê.
Nos bastidores da narrativa, há algumas frentes quentes ganhando corpo:
- Paternidade: a confirmação oficial sobre quem é o pai dos bebês de Fátima e dos gêmeos de Solange, e o impacto direto sobre o futuro de Afonso na TCA.
- Reação de Odete: como a matriarca vai administrar o escândalo interno e o risco de imagem para os negócios.
- Queda de Celina: a mentira do exame pode cobrar um preço alto em casa e no tabuleiro corporativo.
- Embate feminino: Fátima e Solange em lados opostos, agora com vidas em jogo e um passado recente que beira o irreparável.
Também pesa o contexto emocional. Fátima já mostrou que aceita se machucar para alcançar seus objetivos, como no salto da escadaria do Theatro Municipal. Esse gesto não foi um capricho; foi estratégia. Quando ela decide não envenenar Solange, o que aparece é outra coisa: a percepção de que existe um ponto sem volta. É esse limite, ainda que tênue, que mantém a personagem humana — e perigosa, justamente por ser imprevisível.
Para o público, a virada promete tensão contínua, não pelo choque fácil, mas pela corrida de consequências. A cada revelação — a farsa do exame, o plano abortado, a gravidez dupla — a história abre uma porta e fecha outra. Quem ganha tempo são os gêmeos de Solange. Quem perde terreno, ao menos por ora, é a versão conveniente que tentaram impor sobre Afonso. A novela aposta nesse vai e vem para ampliar o alcance do conflito, do núcleo familiar ao empresarial, sem tirar os olhos do que realmente move as peças: desejo, medo e cálculo.
Sem o crime consumado, o roteiro ganha fôlego para explorar a disputa por poder com mais sutileza. Não falta pólvora: uma vilã ambiciosa que vacila diante do abismo, uma diretora grávida de gêmeos em rota de colisão com a elite da TCA, um herdeiro pressionado a se definir e uma matriarca que não tolera rachaduras. As próximas cenas devem intensificar esse xadrez — com cada gesto de hesitação, agora, valendo muito.