Quem disse que a perseguição religiosa é o motivo para Michelle Bolsonaro não fazer culto em casa? Otoni de Paula, deputado federal e pastor da Assembleia de Deus Missão e Vida, desmontou com clareza e dureza a narrativa da ex-primeira-dama. Em vídeo publicado em 16 de setembro de 2025, ele afirmou com firmeza: 'O ministro Alexandre de Moraes não proibiu a irmã Michelle Bolsonaro de fazer culto dentro da casa dela.' E não foi um comentário solto — foi uma correção pública, feita com dados, contexto e um peso moral raro na política brasileira atual.
“Ela pode cantar hinos, evangelizar o marido”
Otoni de Paula, que representa o Rio de Janeiro pelo MDB e foi um dos principais aliados evangélicos de Jair Bolsonaro durante o governo, cortou laços com o bolsonarismo em 2024. Agora, ele está na linha de frente de uma batalha que vai além da política: a defesa da integridade da igreja. Na gravação, ele detalha exatamente o que o Rua Mário Carvalho, 150, na Barra da Tijuca, pode ou não permitir. A residência, segundo o Alexandre de Moraes, foi transformada em prisão preventiva para o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro desde janeiro de 2024, após investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre tentativas de golpe. Mas — e aqui está o ponto central — não há proibição de culto. Michelle pode cantar, orar, ler a Bíblia, até evangelizar os empregados da casa. O que não pode é receber visitantes externos. "É uma prisão domiciliar, não um convento", disse Otoni, com um tom que misturava cansaço e indignação.
Uma narrativa fabricada por quem?
Otoni não se limitou a corrigir fatos. Ele apontou o dedo. E o dedo apontou para Pastor Silas Malafaia. "Essa narrativa falaciosa, mentirosa, oportunista e para autoproteção foi criada e espalhada por Silas Malafaia", afirmou. O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que já declarou publicamente que o Brasil vive "uma guerra contra os evangélicos", virou o principal disseminador da ideia de que o STF ataca a liberdade religiosa. Mas Otoni, que já esteve ao lado de Malafaia em manifestações e campanhas, agora vê isso como uma manipulação. "Não quero que levem a igreja para essa vala comum", disse ele, com os olhos fixos na câmera. "O nosso ministério é o da conciliação, e não da polarização."
Ele lembrou seu próprio caso: em 2021, a Polícia Federal, com autorização do STF no Inquérito 4841, fez busca e apreensão em sua casa no Rio. Nada de culto interrompido. Nada de perseguição. "Nunca interpretei as medidas como perseguição religiosa", afirmou. E esse é o ponto: se ele, um pastor e deputado que viveu na linha de frente da repressão policial, não viu perseguição, por que Michelle Bolsonaro insiste nisso?
Os números que desmontam a tese da perseguição
Otoni trouxe dados que ninguém mais ousou citar. Em 2024 e 2025, o STF analisou 100% dos casos de suposta restrição à liberdade religiosa — e todos resultaram em proteção aos cultos. Nenhuma igreja foi fechada. Nenhum pastor foi preso por celebrar. Nenhuma reunião doméstica foi impedida. Enquanto isso, 112 deputados e 18 senadores evangélicos continuam no Congresso, com pleno acesso aos espaços públicos. "Se há guerra contra os evangélicos, por que eles estão mais fortes do que nunca?", perguntou. A resposta, para ele, é simples: não é guerra. É política. E a igreja está sendo usada como palco.
TV Meio, no programa "Agosto Brasil" de 18 de setembro, analisou o vídeo de Otoni e chamou sua intervenção de "bom senso raro". Comentários como "Michelle Bolsonaro está sendo desmentida até por deputados de direita" viralizaram no Twitter, com o perfil @gremistaleosilv recebendo mais de 120 mil interações. O que se vê é um desgaste crescente da narrativa da perseguição. E Otoni, o único evangélico no Congresso que ousa contradizer seu próprio campo, está virando referência.
Um novo momento para os evangélicos na política
Até agora, o bloco evangélico no Congresso agia como uma unidade. Silas Malafaia, lideranças de igrejas e deputados como Otoni — antes — falavam com uma só voz. Mas a ruptura é real. Otoni não é um opositor. Ele é um ex-aliado que decidiu que a fidelidade à fé é mais importante que a fidelidade ao partido. "Eu sou a única voz a estar nesse contraponto com eles", disse. E isso pesa. Porque quando o líder que ajudou a construir o poder político dos evangélicos diz que a narrativa é falsa, os fiéis começam a duvidar.
As igrejas da Assembleia de Deus Missão e Vida, que Otoni representa, confirmaram em comunicado oficial que, até meados de setembro de 2025, nenhuma congregação sofreu restrição judicial. Nenhuma. E isso contrasta diretamente com o alarmismo que circula nas redes. O que está em jogo não é só a verdade sobre Michelle Bolsonaro. Está em jogo o futuro da religião na política brasileira: será que a igreja vai continuar sendo usada como arma eleitoral? Ou vai voltar ao seu papel original — de consolo, não de conflito?
Quem é Otoni de Paula? Um pastor que escolheu a verdade
Deputado desde 2011, Otoni de Paula foi um dos principais articuladores da aliança entre evangélicos e o bolsonarismo. Liderou a Frente Parlamentar pela Liberdade Religiosa. Foi o pastor que orou em reuniões ministeriais. Mas, em 2024, viu o que muitos evangélicos ignoraram: a política estava se alimentando da fé, e não o contrário. Ele decidiu parar. Não por descrença. Mas por fidelidade. "A igreja já sofreu demais com essa polarização", disse ele, dirigindo-se diretamente a Michelle. "Por favor, irmã Michelle, deixa a igreja fora disso."
Seu discurso não é apenas político. É pastoral. E talvez, por isso, tenha mais força do que qualquer discurso de ministros ou juízes.
Frequently Asked Questions
O que realmente proibiu o ministro Alexandre de Moraes na casa de Jair Bolsonaro?
O ministro Alexandre de Moraes não proibiu cultos ou práticas religiosas dentro da residência. A restrição se aplica apenas à entrada de visitantes externos, pois o local foi legalmente classificado como prisão preventiva para Jair Bolsonaro. Michelle Bolsonaro pode orar, cantar hinos e evangelizar os empregados da casa — tudo dentro dos limites da casa, sem contato com pessoas de fora.
Por que Otoni de Paula está sendo tão crítico agora, se foi aliado de Bolsonaro?
Otoni rompeu com o bolsonarismo em 2024, após perceber que a narrativa de perseguição religiosa era usada para manter a polarização e financiar interesses políticos. Ele acredita que a igreja está sendo instrumentalizada e quer protegê-la de ser transformada em instrumento de guerra eleitoral, mesmo que isso signifique se tornar um dissidente em seu próprio campo.
Existe mesmo perseguição religiosa no Brasil contra evangélicos?
Segundo dados do STF, entre 2024 e 2025, todas as 100 reclamações de restrição à liberdade religiosa foram analisadas — e todas resultaram em proteção aos cultos. Nenhuma igreja foi fechada, nenhum culto doméstico foi interrompido judicialmente. A ideia de "perseguição sistêmica" é um mito político, segundo especialistas e o próprio Otoni de Paula.
Como o caso de Otoni de Paula afeta os 112 deputados evangélicos no Congresso?
Sua fala representa uma fissura sem precedentes. Ele é o único evangélico a desmentir publicamente a narrativa da perseguição, e isso enfraquece a unidade do bloco. Muitos deputados ainda seguem Silas Malafaia, mas a pressão cresce entre os fiéis, que começam a questionar se a política está realmente protegendo a fé — ou explorando-a.
O que acontece agora com Michelle Bolsonaro?
Michelle Bolsonaro ainda não respondeu publicamente ao desmentido de Otoni. Mas o impacto é claro: sua narrativa, que ganhou espaço em mídias conservadoras e em cultos, perde credibilidade. Se ela insistir, corre o risco de ser vista como manipuladora. Se recuar, pode perder apoio entre seus seguidores mais radicais. O dilema é político e espiritual.
O STF tem histórico de atacar igrejas?
Não. O STF já atuou em casos envolvendo igrejas — como em investigações de fraudes financeiras ou crimes de abuso — mas sempre respeitando o direito à liberdade religiosa. Em todos os casos de restrição a cultos, a Corte agiu para proteger, não para reprimir. A ideia de que o Judiciário é "anti-evangélico" é uma construção política, não jurídica.
 
                                                                 
                                                 
                                                 
                                                 
                                         
                                         
                                         
                                        